"Quero dizer às pessoas que podem ir à ópera de jeans e chinelos"
Um vídeo recentemente partilhado pela Orquestra de Paris no Facebook, em que o Paolo interpreta Stabat Mater, de Rossini, tornou-se viral, o que não é comum quando se trata de música clássica. Deixe-me começar por lhe perguntar como vê o seu sucesso na Internet?
Estou muito feliz por ter acontecido. Tento tentado rejuvenescer este mundo do canto lírico de todas as formas possíveis com o intuito de ajudar os jovens a voltarem aos palcos. O mundo da ópera é também dos mais novos. Os espetáculos devem ser assistidos por pessoas sem que tenham a obrigatoriedade de se vestir de determinada maneira e eu quero revolucionar esta ideia e tornar o teatro mais leve e mais acessível a todos.
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Alguma vez pensou que iria dar a volta ao mundo através das redes sociais?
Nunca! Nunca pensei que o vídeo andasse a circular por aí. Mas ainda bem. Desta forma, as pessoas que ainda não conheciam Rossini podem ficar a par do seu génio.
A maioria das notícias referentes ao vídeo falam de um "tenor musculado e tatuado". É assim que quer ser conhecido?
Os músculos e uma cara bonita ajudam apenas a fazer sobressair o que é essencial: a técnica vocal! Essas duas características combinadas com a voz tornam-me mais credível.
A aparência é importante para si?
Gosto apenas de correr e de exercitar os músculos em casa.
Como é que a ópera apareceu na sua vida?
Na verdade, eu era pianista. Em criança, fui solista em coros polifónicos de adultos e o ponto de viragem aconteceu quando o diretor artístico Federico Faggion - agora um dos meus melhores amigos - me catapultou para o palco com Don Giovanni [ópera em dois atos de Wolfgang Amadeus Mozart], em Pádua. Foi a partir desse momento que iniciei a minha carreira artística.
Sempre sentiu amor por esta forma de arte?
Sempre. Desde que nasci. Sempre gostei, mesmo em criança, de ver óperas na televisão e juntava dinheiro para comprar bilhetes para temporadas inteiras no teatro. No verão, era costume ir trabalhar para poder pagar aulas de técnica vocal. Não posso dizer que este amor tenha surgido numa altura específica, mas sim que sempre existiu dentro de mim. Depois, nós é que escolhemos o que fazer com esse sentimento nobre.
Quando é que decidiu que queria cantar para o resto da sua vida?
Quando subi pela primeira vez ao palco. O cheiro do teatro [de Pádua] ainda é indescritível.
Lembra-se bem dessa primeira atuação?
A primeira? Lembro-me que quando estive pela primeira vez em frente a um público senti dentro de mim aquela força que me faz cantar sem medo.
Nunca quis ser mais nada, ter outra profissão? Apenas cantor?
Bem... se hoje em dia não fosse cantor talvez tivesse sido pianista ou crítico de arte. Manter-me-ia fiel ao vasto mundo que é a arte.
Disse que o sucesso do vídeo se deve ao facto de as pessoas quererem ver coisas diferentes. A ópera é tão atrativa para os mais novos como para os mais velhos?
O que se passa é que os mais novos não querem ficar limitados por regras que lhes imponham uma maneira de vestir. Nós sentimo-nos bem de calças de ganga e de T-shirt. Ir ao teatro significa liberdade. Eu quero mudar este mundo da ópera e dizer a todas as pessoas que podem ir à ópera de jeans e chinelos. A arte é simples e bonita e não precisa de roupas chiques para ser apreciada.
Está a dizer que é preciso inovar?
Sim, que o mundo da ópera tem mesmo de ser renovado. Este é o meu desafio. Eu visto uma T-shirt, mas o meu smoking é a minha voz.
Nasceu na cidade italiana de Palermo, onde esta semana vai estar com A Flauta Mágica, de Mozart, na pele da personagem central, Tamino. Nunca cantou no teatro da sua cidade natal...
É verdade que nunca tinha cantado no Teatro Massimo of Palermo... o meu teatro. Infelizmente, tentei fazê-lo várias vezes, mas sempre que a oportunidade surgia eu já tinha compromissos no estrangeiro. As temporadas líricas em Itália são sempre programadas um pouco mais tarde do que nos teatros de outros países e, por vezes, os artistas já não estão disponíveis.
Mozart, Verdi, Puccini... Tem algum compositor preferido?
Quando comecei a cantar ópera, dizia que Mozart era o meu pai (risos)... Acho que vou continuar a nutrir um sentimento especial por ele. Mas sou loucamente apaixonado por autores como Debussy, Verdi, Puccini, Wagner, Massenet, Gounod, Stravinsky, Rossini...
O que é que a sua família acha da sua escolha profissional e do vídeo que fez a sua imagem e a sua voz saírem de Itália e percorressem os quatro cantos do mundo?
Estão todos muito orgulhosos do meu percurso e do meu trabalho, apesar de muitas vezes este me obrigar a ficar longe deles. Felizmente, compreendem. Quanto ao vídeo, eles acham que esta minha revolução pode dar frutos.
E o Paolo? Acha o mesmo?
Nos últimos dias, dei várias entrevistas a órgãos de comunicação social italianos e a alguns estrangeiros. Estive no canal de TV público italiano [a RAI]. Espero que, pelo menos em breve, isso se traduza em mais público. E espero conhecer as tradições líricas dos outros países. Quero muito agradecer a todas as pessoas que me têm contatado. Sei que, um dia, vou cantar para elas e tocar as suas almas.